VOL. 5 | N.º 2

Apresentação

Paula Guerra e Lígia Dabul

O CORPO COMO UM CAMPO POLISSÉMICO

 

Artigos

CONSCIOUS ECO-CONSUMERS OR MAINSTREAM FASHIONISTAS? THE PERCEPTION OF BARRIERS TO THE ETHICAL CONSUMPTION OF FASHION CONSUMER GROUPS

Julianna Faludi

Os consumidores de moda comprometem-se com o ambiente em linha com a mudança de estilos, enquanto as suas estratégias de compra de vestuário vão desde a necessidade ou experiência de compra até às escolhas orientadas para a sustentabilidade. As atitudes e comportamentos inconsistentes de tais consumidores apontam para a complexidade das decisões de compra. Para posicionar as práticas de compra dos consumidores de moda num espectro de preocupações éticas, este estudo identifica cinco segmentos de grupos de consumidores de moda com base na orientação para a moda, preocupações de sustentabilidade, frugalidade, e laços emocionais. Este artigo investiga a potencial segmentação dos grupos de consumidores de moda para compreender a ligação por detrás da orientação para a moda e da consciência ecológica nas
decisões de compra. Este estudo confirma que o 'ambiente está na moda', especialmente para a maioria dos segmentos identificados entre os grupos interessados e conscientes. O grupo-alvo mais adequado para marcas éticas e sustentáveis e para compras em linha é a tendência consciente. Este segmento tem uma relação negativa com a frugalidade, e o maior compromisso e consciencialização. Este estudo descobriu que o segmento mais pró-ambiental e eticamente empenhado não está interessado na moda e não demonstra qualquer afeto pelo vestuário. Ético, lento, eco-consciente, em segunda mão, e vintage podem constituir um mercado em crescimento, uma vez que novas formas de padrões de consumo podem envolver a procura de investir em modelos intemporais e circulares. Para o efeito, a sensibilização, a cocriação e a comunicação devem ser dirigidas a diferentes segmentos. Este estudo lança luz sobre a diferença de atitudecomportamento baseada na perceção das barreiras ao consumo ético dos diferentes segmentos de consumidores de moda, enquanto fornece recomendações estratégicas sobre como estes segmentos poderiam ser alcançados através das redes sociais sob várias formas.

REWATCHING AGUIRRE, THE WRATH OF GOD: ATHLETICISM, CINE-TRANCE AND THE LEGACY OF WERNER HERZOG’S ANTI-ETHNOGRAPHIC ‘COSMIC’ ETHNOGRAPHY

Nico Psaltidis

O artigo discute o legado do filme de Werner Herzog Aguirre, the Wrath of God (1972) por ocasião do cinquentenário de seu lançamento. Como o primeiro de três filmes épicos da história em que Herzog explora o encontro entre o Homem Ocidental e o Outro, Aguirre abre um confronto com um conjunto de práticas cinematográficas que poderiam ser definidas como 'etnográficas'. Como os etnógrafos, Herzog montou suas produções em um terreno substancialmente etnográfico – a natureza selvagem longe da modernidade, o trabalho de campo e as negociações com as comunidades locais. Também conhecido por sua insistência em estimular sua equipe a uma verdadeira aventura 'etnográfica', somam-se às exigências de Herzog a ideia de 'atletismo' para a realização do filme. Mas será que a única coisa que têm em comum Herzog e os cineastas etnográficos é o contexto? Em certo sentido, a genealogia da idéia de "verdade extática" de Herzog pode ser rastreada até a noção de "cine-trance" de Jean Rouch, etnógrafo e pioneiro do etnocinema. No entanto, Herzog rompe com as estruturas metodológicas humanistas do cinema etnográfico, reduzindo assim qualquer tipo de distância possível entre o cineasta, a equipe e o contexto do filme.

 

A MÚSICA MOVIMENTA A CULTURA E INSPIRA A LUSOFONIA: PELO INTERIOR DE CABO VERDE AO (RE)ENCONTRO DE PORTUGAL

Catarina da Silva e Paula Guerra

O nascimento de uma esfera crioula em Portugal vem acompanhada de ritmos sustentados na morna, no batuque, na coladeira e no funaná nos quais, novos semblantes musicais vêm movimentar o corpo e casar a pele. Estas esferas, estabelecidas a partir de Cabo Verde, direcionam e futuram Lisboa como nova, ousada, ativa e próxima de África que, cantada a partir de diversas latitudes, aventura o reencontro de discursos, fluxos e raízes. Este artigo destina-se nesse sentido: a partir do processo de revisão bibliográfica a abordagem documental articula perspetivas e mobiliza dinâmicas na demanda de circunstâncias e casualidades multiformes, onde a música é aliança de um tempo reconquistado. Unem-se ritmos e dentro de um só celebra-se a memória e a identidade. Existem lugares que se reiniciam. Este é um deles.

 

NERDCORE NÃO É SÓ PARA NERDS. UMA REFLEXÃO SOCIOLÓGICA SOBRE O NERDCORE MUSIC CONTEMPORÂNEO

Paulo Sousa

É possível fazer um rastreamento de alguns dos temas explorados em torno da cultura geek e da sua vastidão. No que toca à dimensão das cenas musicais dentro deste domínio, há um vazio que merece ser preenchido. Nerdcore, é um movimento cultural relativamente recente que teve extensões para uma cena musical em concreto. O que se procurou fazer neste trabalho, em primeiro lugar, foi estabelecer alicerces teóricos para investigadores interessados, visto que a bibliografia sobre o assunto ainda deixa muito a desejar, e por outro perceber de que forma esta nova corrente musical é caracterizada no domínio virtual. Para servir de complementação, tivemos acesso a uma entrevista que foi realizada a um dos pioneiros da cena, Fabvl, por um youtuber de nome Munfu Proffitt, a qual a sua análise serviu de corpus empírico para este estudo.

 

MÚSICA LIMINAR E MEMÓRIAS DE UM FUTURO PASSADO: UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO LO-FI E VAPORWAVE

Rodrigo Serra Diogo

Este artigo debruça-se sobre as cenas musicais do lo-fi e do vaporwave tendo como ponto de partida uma abordagem sociológica. Por um lado, é contextualizado historicamente e culturalmente o surgimento de ambos os géneros musicais e, também, analisa-se como se manifestam atualmente no espaço digital. Por outro lado, são descritas as paisagens culturais, temáticas e emocionais destas cenas, uma vez que possuem significados simbólicos e contextos criativos muito específicos: aspetos estes intrincados e sociologicamente relevantes. Deste modo, o artigo conta com o enquadramento destes géneros como cenas musicais, uma análise empírica dos espaços digitais onde estas cenas proliferam e uma tentativa de evidenciar a importância sociológica das dinâmicas de ambas.

 

Registos de Pesquisa

CORPO TRANSFORMADO

Jorge de Carvalho

Jorge de Carvalho do KINO-DOC, núcleo de cinema de cursos de documentário presenciais e online, apresenta, neste registo, um programa de cinema intitulado “Corpo Transformado”. Este programa é constituído por 40 filmes, na sua maioria exploratórios e de cariz documental, que dão a ver transformações do próprio corpo – humano ou de outros animais – e corpos transformados pelo cinema, vídeo e por imagens científicas utilizadas no domínio artístico. Este programa foi realizado na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto em cinco sessões, nos dias 8, 9 e 10 de abril de 2022.

 

HACKING LES SYSTÈMES: UNE CONVERSATION AVEC MARC-ANTOINE LÉVAL

Henrique Grimaldi Figueredo
O campo da arte não é uma estrutura homogênea. Por definição, organiza-se a partir de suas muitas disputas, verdadeiras lutas classificatórias sobre os arbitrários culturais que operam os regimes de legitimidade. Essencialmente assimétrico, o campo da arte é, portanto, um espaço social repleto de hierarquizações que produzem e reproduzem as desigualdades entre artistas, mercados e instituições. Embora um “sistema” coeso, essa estrutura não está completamente salvaguardada de possíveis processos simbólicos de hackeamento. Nessa entrevista com o artista francês, Marc-Antoine Léval, abordaremos questões como o hackeamento dos circuitos artísticos, a imaterialidade da arte e um certo “artivismo” como modo de sobrevivência no campo cultural da contemporaneidade.

 


NOVO ARTIGO | HOUSE OF GOLDEN RECORDS: PORTUGAL’S INDEPENDENT RECORD STORES (1998–2020)

 

Dez anos depois, publicámos a 'HOUSE OF GOLDEN RECORDS: PORTUGAL'S INDEPENDENT RECORD STORES (1998-2020)' - uma atualização necessária sobre as lojas de discos independentes do Porto e de Lisboa. Demonstramos que as lojas de discos começaram a oferecer não só objetos para compra, mas sobretudo experiências associadas a objetos culturais e novas práticas culturais baseadas na valorização do objeto, bem como experiências de curadoria. Analisamos as lojas de discos independentes como espaços de resistência contra a desmaterialização da música. A emergência de uma nova economia aspiracional é explorada, rejeitando a lógica Vebleniana da ostentação.

 

Link aqui: https://www.mdpi.com/2075-4698/12/6/188

 

GUERRA, Paula (2022). House of Golden Records: Portugal’s Independent Record Stores (1998–2020). Societies, 12(6):188https://doi.org/10.3390/soc12060188. EISSN 2075-4698. URL: https://www.mdpi.com/2075-4698/12/6/188


TODAS AS ARTES | TODAS AS FESTAS | TODAS AS ESPERANÇAS 2023

TODAS AS ARTES | TODAS AS FESTAS | TODAS AS ESPERANÇAS 2023

Falavam-me de Amor
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas, (…)
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso Natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
NATÁLIA CORREIA, IN 'O DILÚVIO E A POMBA'

 

Artwork Esgar Acelerado.

NOTÍCIA | Como a pandemia impacta o cenário artístico e cultural?

A pandemia causada pela Covid-19 ainda traz inúmeros desafios para todos os setores do mercado global, que, em níveis diferentes, ainda sofrem os impactos decorrentes da crise sanitária. A situação também afeta o contexto de produções culturais e artísticas contemporâneas, ao perpassar constrangimentos que foram acentuados no cenário epidemiológico. Para debater o tema, o projeto  Chá das Cinco e Meia recebe a professora de sociologia na Faculdade de Letras e Humanidades da Universidade do Porto (Portugal), Paula Guerra, para dialogar sobre o assunto. O encontro acontece nesta quarta-feira, 23, no auditório do Centro de Pesquisas Sociais (CPS), às 17h30.

Com a temática “Um loop de incertezas: Os impactos da pandemia da Covid-19 na produção cultural e artística contemporânea”, a pesquisadora aponta que em Portugal, o trabalho criativo em torno da música popular não tem sido objeto de um investimento científico. Neste cenário, a partir de entrevistas semiestruturadas, ela mapeou as desigualdades e os impactos da Covid-19 no trabalho criativo de 40 músicos portugueses – fruto de uma investigação transnacional em curso, que envolve Portugal, Reino Unido e Austrália.

“Na generalidade, as pesquisas têm revelado um paradoxo inelutável face ao trabalho criativo musical: se, por um lado, esse mercado de trabalho apresenta abertura cultural, dinamismo e cosmopolitismo, por outro, revela padrões de desigualdade em termos de gênero, precariedade de vínculos, informalidade contratual, atipicidade de tarefas, flexibilidade de papéis”, enfatiza Paula.

Na pesquisa, ela aponta que, no cenário mundial, os governos impuseram restrições à vida social, de modo a controlar a propagação da doença. Nesta perspectiva, diferentes tipos de restrições foram adotadas, passando por vários graus de distanciamento e isolamento social, proibição ou restrição de ajuntamentos sociais, viagens, atividades de lazer e desportivas, e até mesmo a ida à escola ou ao trabalho.

“O impacto destes tipos de controle e medidas de emergência na liberdade individual e na democracia, ainda por apurar, deverá continuar. Muitas medidas terão de se manter a longo prazo, algumas mesmo tornando-se parte do ‘novo normal’ para estes músicos, levando a reequacionar conceitos chave, como, risco, medo, pânico, crise e confiança”, destaca.

De acordo com o professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais, Felipe Maia, é um privilégio receber a professora Paula Guerra, que tem uma trajetória muito consolidada de atuação no campo da sociologia da cultura e da juventude, com grande número de publicações e colaborações em projetos internacionais. “O tema que ela traz para o ‘Chá’ é altamente relevante ao dar visibilidade às condições de incerteza e de desigualdade que marcam a produção cultural, tema que ela investiga a partir do campo da produção musical em Portugal. Será sem dúvida uma ótima oportunidade para os pesquisadores da UFJF conhecerem seu trabalho e prospectar colaborações.”

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Link da notícia: https://www2.ufjf.br/noticias/2022/11/22/como-a-pandemia-impacta-o-cenario-artistico-e-cultural/


NOVO ARTIGO | Barulho! Vamos deixar cantar o Fado Bicha. Cidadania, resistência e política na música popular contemporânea

Notando a desadequação do entendimento da música como mero fenómeno superficial de uma expressão sociopolítica, mostraremos, neste artigo, como os Fado Bicha enfatizam a importância da performatividade numa improvável resistência fundada no fado. Na verdade, procuramos demonstrar como as performances e as canções do Fado Bicha se assumem como produtores de denúncia e de protesto e, sobretudo, são (re)criadoras de temáticas/problemáticas de género. A sua insurgência manifesta na realidade portuguesa, ao provocar-lhe agitação e mudança pela leitura que dela fazem, constitui-se em elemento integrante de uma identidade coletiva reconfigurada pelo artivismo. Assim, procurou-se romper com o facto de a música, enquanto meio que atinge um elevado número de pessoas a uma escala transglobal, ter sido ainda pouco estudada no seu impacto político, isto é, como instrumento de refutação de hegemonias, de resistência e de articulação de novas alternativas - e, justamente, onde menos se esperava - no fado.

GUERRA, Paula (2022). Barulho! Vamos deixar cantar o Fado Bicha. Cidadania, resistência e política na música popular contemporânea [Noise! Let Fado Bicha sing. Citizenship, Resistance and Politics in Contemporary Popular Music]. Revista de Antropologia (São Paulo, Online), 65(2), e202284, https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.202284. ISSN 0034-7701, ISSNe 1678-9857. URL: https://www.scielo.br/j/ra/a/q9STJNdfqhTPr9sNCHyb3GL/?lang=pt

Fotografias de Paulo Andrade e Nuno Pinheiro
https://www.fadobicha.com/


NOVA PUBLICAÇÃO

NOVA PUBLICAÇÃO
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HIKIJI, Rose Satiko Gitirana; GUERRA, Paula & GRUNVALD, Vi (2022). ReXistências musicais entre arte e política. Apresentação do Dossiê. Revista de Antropologia (São Paulo, Online), 65(2), e202284, https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.202284. ISSN 0034-7701, ISSNe 1678-9857. URL: https://www.scielo.br/j/ra/a/gs4WWVDqp8SrvF96ZFqKV9D/?lang=pt#
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O que têm em comum o musicar (Small, 1998) de Apeshit, o videoclipe do casal de artistas estadunidenses Beyoncé e Jay-Z, as performances musicais de João do Crato no interior do Ceará, um projeto entre uma cantora lírica, um musicólogo e um líder indígena na Colômbia, o álbum AmerElo do rapper paulistano Emicida, o artivismo musical de Linn da Quebrada e a música de imigrantes africanos em São Paulo? À primeira vista, nada. Mas neste Dossiê estes fazeres musicais servem todos ao mesmo intuito: são formas de reXistência.

Créditos da fotografia: Jota Mombaça
Fonte da Fotografia: https://www.instagram.com/p/Ccp2zGgonjb/


Vol. 5 | N.º 1

Apresentação

Paula Guerra e Lígia Dabul

Diversidade, (i)materialidade e prospetivas sociológicas

 

Artigos

Devemos apelidá-los de estudos cine-culturais? O cine-mundificar da música popular e dos estudos juvenis

Michael MacDonald, João Lima

Este artigo explora a investigação-criação cinemática, ou o que chamo de cine-mundificar. Com efeito, o cine-mundificar tem o potencial de contribuir para uma prática de investigação única para a música popular e para os estudos juvenis, áreas da vida cultural caraterizadas pela sua abertura e inovação com os novos média. Ter consciência destas oportunidades significa aproveitar as tecnologias disponíveis atualmente. Mas existe um obstáculo. A produção cinemática deve juntar-se com a investigação. Os métodos tradicionais de pesquisa cinemática, devido aos seus custos, dificuldades com a revisão de pares e a falta de apoio institucional, não têm sido aceites pela academia. Tem sido a antropologia a ciência que mais tem feito para desenvolver a investigação cinemática através de filmes etnográficos. Os novos desenvolvimentos no ecossistema do cinema digital têm sido pouco explorados até ao momento. O ecossistema do cinema digital, emergente desde 2009, é composto por câmaras digitais relativamente baratas e smartphones, por plataformas digitais grátis de nível profissional, uma rede mundial de festivais de filmes e a transformação da maioria dos cinemas artísticos em projeções digitais. Tal significa que o cinema digital feito num computador portátil pode ser exibido em qualquer lado. Estamos no melhor momento possível para se fazer cinema académico, mas então por que razão os académicos o fazem tão pouco?
 

Identidades, fronteiras e mestiçagens culturais. O caso dos residentes de Gibraltar

Sandra Borges Gilotay e Olga Magano

A construção das identidades é um processo complexo e contínuo que inclui experiências individuais e coletivas. Neste artigo, analisa-se a complexidade cultural e identitária dos residentes de Gibraltar por meio de um estudo exploratório e qualitativo. Trata-se de um território único no continente europeu e com certos vínculos coloniais devido ao seu passado de conquistas de disputas fronteiriças entre Espanha e Inglaterra. Além da comprovação de distintas origens culturais e geográficas, foi possível perceber, uma dinâmica intercultural entre os seus habitantes, em que a pluralidade e a mestiçagem de culturas conjugam um papel importante no processo construtivo e identitário dos seus residentes, permitindo não só uma integração no seu meio social, mas uma reconfiguração de suas pertenças, despertando um sentimento comum de convivência, além do reconhecimento de seus próprios limites culturais.
 

Extrema-direita, xeno-populismo e colonialidade: discursos de ódio e colonização do imaginário no presente

Denise Osório Severo e Paula Guerra

A expansão de movimentos de extrema-direita constitui um fenômeno global que tem se traduzido no surgimento e no fortalecimento de inúmeras organizações, partidos e especialmente na conquista do poder em muitos países da Europa, América do Norte e América Latina. Neste artigo, procuramos dar conta dessas desse fenômeno, primeiramente, através da apresentação e reflexão das diferentes conceções teóricas que têm sido tidas a este respeito, nomeadamente dos distintos conceitos conexos utilizados pela academia, tais como, populismo, fascismo, extrema-direita ou neoliberalismo autoritário. Num segundo nível, vamos focar a nossa atenção na Polônia e Portugal. No caso da Polônia, pelo seu caráter conjuntural reconhecidamente populista, governado desde 2015 pelo Partido Lei e Justiça. No caso de Portugal, pelo seu caráter oposto, sob gestão do Partido Socialista, recentemente reeleito com 60% dos votos, mas que vivencia outrossim fortalecimentos de movimentos de extrema-direita. Respeitadas as particularidades socioculturais e históricas de cada qual, em ambos países eles se expressam tanto no âmbito da sociedade civil como também da sociedade política. Estas experiências revelam contra faces que, apesar das diferenças, sinalizam aproximações com a perspectivado xeno-populismo e podem iluminar a compreensão destes processos. No cenário da Polônia, a adoção de políticas institucionais e legislações contrárias aos migrantes, LGBTQIA+ e demais minorias são notáveis, assim como crescentes manifestos de movimentos de extrema-direita, ambos assentados em discursos de ódio. Por outro lado, o contexto português, ainda que governado por espectro político oposto, também vivencia processos recentes de fortalecimento da extrema-direita. De facto, o partido "Chega", representante da extrema-direita, obteve o terceiro lugar em recente pleito, marcado por tensões que envolveram discursos de ódio, xenofobia e perspectivas nacionalistas.
 

A música eletrónica ambiental: das primeiras composições musicais e experimentações sonoras às dinâmicas experimentais

Frederico Dinis

Tendo como ponto de partida a definição de Brian Eno para a música eletrónica ambiental este primeiro artigo procura construir uma possível arqueologia deste género com recurso à escolha de um conjunto de autores e de trabalhos, enquadrados desde as primeiras composições musicais e experimentações sonoras do final do séc. XIX e início do séc. XX, até às dinâmicas experimentais, de meados do séc. XX, que desafiam o próprio conceito de música, abrindo assim novos caminhos ao experimentalismo sonoro. A ideia transversal ao desenvolvimento deste género é o de que a música eletrónica ambiental parte de uma tentativa de usar a forma do som como o primeiro plano, ao invés do recurso a vozes melodia ou qualquer estrutura de música clássica ou pop. Mas, apesar da existência de diversas antologias e vários artigos académicos e manifestos sobre a música eletrónica ambiental, este subgénero da música eletrónica permanece tão evasivo e indeterminado, como a sua origem. A música eletrónica ambiental é assim examinada como uma visão entre muitas, como um género e um estilo musical, sendo também discutido o seu aparecimento enquanto termo (ambient) e enquanto música que visa induzir a calma e um espaço para pensar.
 

Novas pedras nos camynhos de Walla Capelobo

Carolina Cerqueira Correa, Malandro Vermelho e Walla Capelobo

Este é um ensaio-encante, uma escrita-reza, caminhada por tempos-espaços, experimentando pensar com. Pensar com a artista e pesquisadora e escritora Walla Capelobo, partindo de matrizes ancestrais de falar e pensar e escrever. Pensar com palavras e corpos e gestos, a escrevivência de ser sujeita de pesquisa, corpa que é e produz conhecimento, na contramão do mundo colonial. Ensaio feito em bando, com seres visíveis e invisíveis, humanos e não-humanos, caminhando entre Congonhas e Matias Barbosa e Juiz de Fora, cidades de Minas Gerais. Nossa proposta coloca nossos corpos em jogo, pois com nossas epistemologias das macumbas, palavra é pensamento, é corpo. Escrever então é movimento, ação. Rever a caminhada de Walla, é rever a caminhada com Walla. Resenhar com Capelobo é conversar com sua corpa e com sua palavra. Com ela rezamos um tempo grande, histórico, cósmico, onde pensar é (re)criar. Experimentamos sua lama, sua terra, sua mata, sua estrada, seu viver. Como? Com. Cocriando com a Nossa Senhora do Rosário, com os Arturos, e outras formas encantadas de atravessar o mundo e criar terreiros de saber e cura.
 

K-pop. Os reflexos do hibridismo cultural na identidade e na música popular coreana

Camila Alonso Milani

O presente artigo procura analisar como o K-pop, (sub) gênero musical nascido na Coreia do Sul, é capaz de retratar reflexos de hibridismo cultural na música pop e na identidade sul-coreana. Para tal, foi realizado levantamento de fatos e dados históricos que demonstrassem a supressão identitária cultural sofrida pelo povo coreano ao longo dos séculos, até a sua consolidação como nação independente. Depois, a partir do contexto pós-guerra, é feita análise da influência norte-americana na trajetória do país na música e na construção de sua cultura pop. Por fim, investiga-se o papel de todas estas interferências na solidificação da identidade sul-coreana, bem como o papel da globalização na instauração da subcultura K-popper e da nova posição do país peninsular perante o mundo.
 

Registos de Pesquisa

Manifesto imagético para futuros possíveis - Um estudo etnográfico do concurso #THEWORLDWEWANT

Diego Soares Rebouças

Sob os auspícios de join the world's biggest conversationa campanha #UN75apresentou desafios globais contemporâneos em forma de imagens fotográficas. Celebrando os 75 anos de existência/atuação das Nações Unidas, o Agoralançou o concurso #TheWorldWeWant, que motivou os usuários da rede a postarem fotografias que representassem anseios para as gerações futuras. À pesquisa, em andamento, interessa adotar uma etnografia visual/digital que aborde os aspectos de representatividade nas operações sistematizadas do olhar, que passa pelo filtro da cultura. Metodologicamente, trabalharemos na análise das fotografias finalistas do concurso (75 imagens). Por meio da interpretação visual categorizaremos as imagens em grupos temáticos. A hipótese é a de que o concurso seja um sintoma da representação das necessidades globais, expressas por meio dos instrumentos da cultura visual. 
Recensões/Resenhas
Recension of the Marie Buscatto's Book, Women in Jazz: Musicality, Femininity, Marginalization
Deniz Ilbi
Marie Buscatto is a professor in sociology at the University of Paris 1 Panthéon-Sorbonne in France, and her recently published bookWomen in jazz: Musicality, femininity, marginalizationinvestigates the invisible discrimination against women musicians in the French jazz world and how women have thrived professionally despite these circumstances. The work was first published in French by CNRS Editions in 2007, and later reprinted in paperback, in 2018, with the author's note "(almost) nothing has changed". 

CHAMADA DE ARTIGOS | CAIANA

DOSSIER CAIANA #22

Eco-sensibilidades. Artes, feminismos y sus intersecciones con la naturaleza en la contemporaneidad

Eco-sensibilidades. Artes, feminismos e a interseções com a natureza na contemporaneidade

Coordinadoras / Coordenadoras:

Paula Guerra (Universidade do Porto, Portugal)
Cláudia de Oliveira (Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil)

Consultar CALL aqui http://congreso.caia.org.ar/caiana/


Vamos and Let's Go! 26 de Agosto

Vamos and Let's Go!
Online + In Person
26 August 2022
Entrar na reunião Zoom
ID da reunião: 973 9935 0792
Senha de acesso: 778014

TODAS AS ARTES | TODOS OS NOMES (VOL. 2)

Já se encontra publicado o volume 2 referente ao Livro de Atas Todas as Artes | Todos os Nomes, organizado por Paula Guerra.

 

Design: Rui Saraiva

Artwork: Esgar Acelerado

 

Link para download: https://drive.google.com/file/d/1kaKHm9ZMIIU8oARLqdVUy3x1QHUw-LI0/view?usp=sharing