Apresentação

Paula Guerra e Lígia Dabul

O CORPO COMO UM CAMPO POLISSÉMICO

 

Artigos

CONSCIOUS ECO-CONSUMERS OR MAINSTREAM FASHIONISTAS? THE PERCEPTION OF BARRIERS TO THE ETHICAL CONSUMPTION OF FASHION CONSUMER GROUPS

Julianna Faludi

Os consumidores de moda comprometem-se com o ambiente em linha com a mudança de estilos, enquanto as suas estratégias de compra de vestuário vão desde a necessidade ou experiência de compra até às escolhas orientadas para a sustentabilidade. As atitudes e comportamentos inconsistentes de tais consumidores apontam para a complexidade das decisões de compra. Para posicionar as práticas de compra dos consumidores de moda num espectro de preocupações éticas, este estudo identifica cinco segmentos de grupos de consumidores de moda com base na orientação para a moda, preocupações de sustentabilidade, frugalidade, e laços emocionais. Este artigo investiga a potencial segmentação dos grupos de consumidores de moda para compreender a ligação por detrás da orientação para a moda e da consciência ecológica nas
decisões de compra. Este estudo confirma que o ‘ambiente está na moda’, especialmente para a maioria dos segmentos identificados entre os grupos interessados e conscientes. O grupo-alvo mais adequado para marcas éticas e sustentáveis e para compras em linha é a tendência consciente. Este segmento tem uma relação negativa com a frugalidade, e o maior compromisso e consciencialização. Este estudo descobriu que o segmento mais pró-ambiental e eticamente empenhado não está interessado na moda e não demonstra qualquer afeto pelo vestuário. Ético, lento, eco-consciente, em segunda mão, e vintage podem constituir um mercado em crescimento, uma vez que novas formas de padrões de consumo podem envolver a procura de investir em modelos intemporais e circulares. Para o efeito, a sensibilização, a cocriação e a comunicação devem ser dirigidas a diferentes segmentos. Este estudo lança luz sobre a diferença de atitudecomportamento baseada na perceção das barreiras ao consumo ético dos diferentes segmentos de consumidores de moda, enquanto fornece recomendações estratégicas sobre como estes segmentos poderiam ser alcançados através das redes sociais sob várias formas.

REWATCHING AGUIRRE, THE WRATH OF GOD: ATHLETICISM, CINE-TRANCE AND THE LEGACY OF WERNER HERZOG’S ANTI-ETHNOGRAPHIC ‘COSMIC’ ETHNOGRAPHY

Nico Psaltidis

O artigo discute o legado do filme de Werner Herzog Aguirre, the Wrath of God (1972) por ocasião do cinquentenário de seu lançamento. Como o primeiro de três filmes épicos da história em que Herzog explora o encontro entre o Homem Ocidental e o Outro, Aguirre abre um confronto com um conjunto de práticas cinematográficas que poderiam ser definidas como ‘etnográficas’. Como os etnógrafos, Herzog montou suas produções em um terreno substancialmente etnográfico – a natureza selvagem longe da modernidade, o trabalho de campo e as negociações com as comunidades locais. Também conhecido por sua insistência em estimular sua equipe a uma verdadeira aventura ‘etnográfica’, somam-se às exigências de Herzog a ideia de ‘atletismo’ para a realização do filme. Mas será que a única coisa que têm em comum Herzog e os cineastas etnográficos é o contexto? Em certo sentido, a genealogia da idéia de “verdade extática” de Herzog pode ser rastreada até a noção de “cine-trance” de Jean Rouch, etnógrafo e pioneiro do etnocinema. No entanto, Herzog rompe com as estruturas metodológicas humanistas do cinema etnográfico, reduzindo assim qualquer tipo de distância possível entre o cineasta, a equipe e o contexto do filme.

 

A MÚSICA MOVIMENTA A CULTURA E INSPIRA A LUSOFONIA: PELO INTERIOR DE CABO VERDE AO (RE)ENCONTRO DE PORTUGAL

Catarina da Silva e Paula Guerra

O nascimento de uma esfera crioula em Portugal vem acompanhada de ritmos sustentados na morna, no batuque, na coladeira e no funaná nos quais, novos semblantes musicais vêm movimentar o corpo e casar a pele. Estas esferas, estabelecidas a partir de Cabo Verde, direcionam e futuram Lisboa como nova, ousada, ativa e próxima de África que, cantada a partir de diversas latitudes, aventura o reencontro de discursos, fluxos e raízes. Este artigo destina-se nesse sentido: a partir do processo de revisão bibliográfica a abordagem documental articula perspetivas e mobiliza dinâmicas na demanda de circunstâncias e casualidades multiformes, onde a música é aliança de um tempo reconquistado. Unem-se ritmos e dentro de um só celebra-se a memória e a identidade. Existem lugares que se reiniciam. Este é um deles.

 

NERDCORE NÃO É SÓ PARA NERDS. UMA REFLEXÃO SOCIOLÓGICA SOBRE O NERDCORE MUSIC CONTEMPORÂNEO

Paulo Sousa

É possível fazer um rastreamento de alguns dos temas explorados em torno da cultura geek e da sua vastidão. No que toca à dimensão das cenas musicais dentro deste domínio, há um vazio que merece ser preenchido. Nerdcore, é um movimento cultural relativamente recente que teve extensões para uma cena musical em concreto. O que se procurou fazer neste trabalho, em primeiro lugar, foi estabelecer alicerces teóricos para investigadores interessados, visto que a bibliografia sobre o assunto ainda deixa muito a desejar, e por outro perceber de que forma esta nova corrente musical é caracterizada no domínio virtual. Para servir de complementação, tivemos acesso a uma entrevista que foi realizada a um dos pioneiros da cena, Fabvl, por um youtuber de nome Munfu Proffitt, a qual a sua análise serviu de corpus empírico para este estudo.

 

MÚSICA LIMINAR E MEMÓRIAS DE UM FUTURO PASSADO: UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO LO-FI E VAPORWAVE

Rodrigo Serra Diogo

Este artigo debruça-se sobre as cenas musicais do lo-fi e do vaporwave tendo como ponto de partida uma abordagem sociológica. Por um lado, é contextualizado historicamente e culturalmente o surgimento de ambos os géneros musicais e, também, analisa-se como se manifestam atualmente no espaço digital. Por outro lado, são descritas as paisagens culturais, temáticas e emocionais destas cenas, uma vez que possuem significados simbólicos e contextos criativos muito específicos: aspetos estes intrincados e sociologicamente relevantes. Deste modo, o artigo conta com o enquadramento destes géneros como cenas musicais, uma análise empírica dos espaços digitais onde estas cenas proliferam e uma tentativa de evidenciar a importância sociológica das dinâmicas de ambas.

 

Registos de Pesquisa

CORPO TRANSFORMADO

Jorge de Carvalho

Jorge de Carvalho do KINO-DOC, núcleo de cinema de cursos de documentário presenciais e online, apresenta, neste registo, um programa de cinema intitulado “Corpo Transformado”. Este programa é constituído por 40 filmes, na sua maioria exploratórios e de cariz documental, que dão a ver transformações do próprio corpo – humano ou de outros animais – e corpos transformados pelo cinema, vídeo e por imagens científicas utilizadas no domínio artístico. Este programa foi realizado na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto em cinco sessões, nos dias 8, 9 e 10 de abril de 2022.

 

HACKING LES SYSTÈMES: UNE CONVERSATION AVEC MARC-ANTOINE LÉVAL

Henrique Grimaldi Figueredo
O campo da arte não é uma estrutura homogênea. Por definição, organiza-se a partir de suas muitas disputas, verdadeiras lutas classificatórias sobre os arbitrários culturais que operam os regimes de legitimidade. Essencialmente assimétrico, o campo da arte é, portanto, um espaço social repleto de hierarquizações que produzem e reproduzem as desigualdades entre artistas, mercados e instituições. Embora um “sistema” coeso, essa estrutura não está completamente salvaguardada de possíveis processos simbólicos de hackeamento. Nessa entrevista com o artista francês, Marc-Antoine Léval, abordaremos questões como o hackeamento dos circuitos artísticos, a imaterialidade da arte e um certo “artivismo” como modo de sobrevivência no campo cultural da contemporaneidade.