Apresentação

Paula Guerra 

RETÓRICAS (DENÚNCIAS) DO INVISÍVEL. MEMÓRIAS, IDENTIDADES, ESPAÇOS E RESGATES

 

Artigos

PERIODISMO ALTERNATIVO Y MÚSICA POPULAR. REPRESENTACIÓN, MEMORIA Y CONSTRUCCIÓN DE UN LUGAR PROPIO

Josep Pedro
Este artículo explora el desarrollo del periodismo alternativo en las escenas musicales contemporáneas a partir de la investigación etnográfica de la escena de blues en Madrid. Examina tres casos de estudio representativos del periodismo alternativo ciudadano, cuyas actividades de publicación, documentación y producción radiofónica, audiovisual y cultural permiten apreciar la evolución de la escena y el desarrollo de movimientos asociativos. En respuesta a la falta de atención por parte de los medios tradicionales, los periodistas alternativos de blues exponen la importancia de que los ciudadanos se sientan o no representados en las agendas de los medios y en el tratamiento de temas y eventos que les atañen
cotidianamente. Las prácticas de periodismo alternativo observadas proporcionan contextos dialógicos en los que los participantes construyen sus identidades musicales y generan gradualmente un archivo sobre su historia y memoria, tratando de obtener mayor capacidad de acción y responsabilidad sobre sus vidas.

GEORREFERÊNCIAS ESTÉTICAS E CRÍTICO-DECOLONIAIS (DO FEMININO) NA OBRA DE YINKA SHONIBARE

Maria de Fátima Lambert

As revisitações historiográficas da Arte Ocidental servem propósitos poiéticos, subsumidos a compromissos ideológicos. Yinka Shonibare (1962-) desconstrói, na cronologia europeia, mentalidades revestidas por tecidos Dutch Wax, desconstruindo estereótipos ocidentais; problematiza conceptualizações mediante a ativação de arquétipos em prol de novas consignações. Focando as estéticas feminista e decolonial, abordamos tópicos iconográficos privilegiados, destacamos as figurações femininas, para explicitar quais as tipologias (iconográficas e semânticas) a que aplica os tecidos Dutch Wax – como emblema disruptivo. Que fundamentos subjazem nas suas transposições, operacionalizando sistemas que entrecruzem o decolonial e o feminista? Que modelos propõe e institui? Que paradigmas se mapeiam e/ou são tácitos? Consideram-se séries que remetem para: figuras históricas do Império Britânico; aristocratas e Iluminismo Francês; mitologia grega na estatuária greco-romana; alegorias e simbologias; obras-primas da historiografia europeia, entre outras. Atenta-se às motivações de Shonibare, ao recriar conjuntos tridimensionais (instalações), pela via da encenação performática, destacando The Progress of Love.

FESTAS DO POVO. SIGNIFICAÇÃO HISTÓRICA DE FESTAS POPULARES EM BAIRROS DE PERIFERIAS DO NORDESTE DO BRASIL

Marcelo de Sousa Neto

A cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, Brasil, é um aglomerado urbano relativamente jovem, figurando, entre as capitais brasileiras, como uma daquelas que tem a história mais recente de sua formação. No esteio das transformações urbanas experenciadas pela capital, destacou-se a formação de grandes bairros, a exemplo do Itararé, na região sudeste da capital. O presente trabalho se detém especificamente sobre a formação do “Grande Dirceu”, como ficou conhecido o bairro Itararé e uma miríade de bairros e vilas que orbitam ao seu derredor. As discussões do trabalho são desenvolvidas a partir de uma questão central: como as comemorações coletivas do “Grande Dirceu” podem ser historicamente apropriadas para a ver o processo de formação histórica da região sudeste da cidade? O trabalho parte do pressuposto de que a festa constitui uma linguagem simbólica através da qual se pode traduzir os valores existenciais de uma comunidade.

CRIA(R)TIVIDADE TRANSDISCIPLINAR. RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA ENTRE A ILUSTRAÇÃO E A SOCIOLOGIA.

Susana Januário e Susana Lopes da Silva

A propósito do entendimento sobre a pertinência da transversalidade na construção de conhecimento e, sobretudo, da importância da reflexividade como dimensão necessária para a construção conscientizante do processo de aprendizagem, procurou-se retomar uma ação pedagógica, anteriormente experimentada, assente na articulação de duas unidades curriculares da licenciatura em Artes Visuais e Tecnologias Artísticas da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (Araújo, Lopes e Carvalho, 2021). O desafio lançado pelas docentes das UCs de Ilustração e Sociologia da Arte consistiu na representação criativa (ilustração) sob o mote alusivo à celebração dos “50 anos menos um” da revolução democrática de 25 de Abril de 1974. Tendo como inspiração os modelos de pesquisa arts-based research (Greenwood, 2019; Finley, 2005) e A/r/t/ography (Irwin, 2004; Dias, 2013), procurou-se incentivar processos de pesquisa, de reinterpretação e de produção de significado (Belliveau, 2005), por forma a potenciar-se a inter-relação entre o fazer criativo e a construção de conhecimento (Dias, 2013). Se o ponto de partida consistiu em potenciar-se a premissa sociológica basilar do uso simbólico da arte (Zolberg, 1990), o processo e a respetiva ressignificação – assente na análise qualitativa das criações criativas realizadas: ilustrações/cartazes (Sontag, 1999) – constituem os pontos de chegada que motivam esta apresentação.

FEMALE GAZE. O CORPO MASCULINO ENQUANTO ESTRATÉGIA

Gabriela Massote Lima

A relação entre desejo e representação visual tem sido um dos temas da história da arte e da cultura visual das últimas décadas, das quais são inseparáveis hoje as questões de gênero. Historicamente a representação do corpo feminino refletiu nos papéis de gênero de forma negativa para as mulheres, ao mesmo tempo que protegeu o cânone masculino enquanto representante viril. Inscrever o olhar feminino ou o female gaze no cerne das nossas vidas seria uma possibilidade de reverter a mirada histórica ou mudar as relações patriarcais do olhar. Este artigo trata deste “olhar feminino” subjetivado, pensado sob dois eixos fundamentais: a crítica institucional e o desejo erótico. Incorporando, de forma contra hegemônica, o corpo masculino enquanto ferramenta de questionamento político.

AS FRAGILIDADES PERSISTENTES NO MUNDO DA ARTE DO JAZZ EM PORTUGAL

Bruno Baptista

Este artigo tem como objetivo revelar as principais fragilidades no mundo da arte do jazz em Portugal, ao analisar o alcance e os impactos efetivos das ações dos seus diversos agentes. Partindo da premissa de Becker (2008) de que um mundo da arte é constituído pela sinergia das ações dos seus agentes, analisamos os impactos destes, tanto positivos quanto negativos, na manutenção e transformação do mundo da arte. De seguida, veremos como os músicos mobilizam estratégias de ação do it yourself e do it together para contornar ou acrescentar aos significados criados por outros agentes e para garantir a manutenção do mundo da arte sempre que os restantes agentes artísticos não conseguem assegurar os seus papéis. Utilizamos dados recolhidos através de 45 entrevistas semidiretivas a músicos/as de jazz.

 

Registos de Pesquisa

O MUNDO COMO ATELIÊ, O DESENHO ENQUANTO MÉTODO: A ARTE-ETNOGRAFIA DE BRUNØVAES

Henrique Grimaldi Figueredo e Bru Novaes

Os fenômenos estéticos formam uma das partes mais substanciais da experiência social humana. Imagens, sejam elas quais forem, participam dos processos de significação e mediação das relações comunitárias. A arte, nesse sentido, não seria apenas um resíduo ou espelhamento dos processos sociais, mas um fenômeno dotado de poderes de confirmação, legitimação, reprodução e/ou contestação. Olhar para a arte (para os espaços onde é criada) e para seus métodos (os dispositivos e ferramentas que ativa), significa, ademais, olhar para a própria tessitura ou desconstrução das relações e narrativas sociais, sendo o artista, nesse ínterim, verdadeiro etnógrafo de seu tempo. Partindo desse pressuposto, este paper ilustra o potencial etnográfico na obra de brunøvaes, une artista que faz do mundo o seu ateliê e do desenho, um de seus métodos preferidos de investigação.

O DIREITO À CIDADE DO PORTO, UM DUALISMO INTEMPORAL. UM EXERCÍCIO ETNOGRÁFICO SOBRE A SITUAÇÃO DOS SEM-ABRIGO NA CIDADE DO PORTO

André Granja

A realidade do sem-abrigo nas ruas do Porto é cada vez mais grave. Atualmente encontramo-nos numa crise habitacional com o aumento da especulação imobiliária e inflação. O aumento do número de pessoas a viver na rua aumentou, não só por causa da pandemia Covid-19 que surgiu sem precedentes, mas com o agravamento destes dois fenómenos mencionados. Com recurso a um exercício etnográfico verificaram-se vários episódios do dia-a-dia deste fenómeno que o senso comum não reflete. Por outras palavras, abordam-se o sentido de comunidade, as inseguranças entre indivíduos, os sonhos, as revoltas, o racismo, o desespero, etc. Os relatos recolhidos e analisados permitiram constatar que a ação camarária portuense não está a ser eficiente no combate à pobreza e à resolução da situação de sem-abrigo no Porto.